Case #74 - Deixando-se nutrir


Disse a Annabelle que apreciava a forma como ela encarava a vida e as relações. Isto constituia um sítio de mutualidade, um sitío onde partilhávamos valores. Falei-lhe então de mim, incluindos os pontos em que encontrava discrepâncias entre os meus valores de autenticidade, prestabilidade, e as minhas próprias necessidades e limitações. Annabelle falou-me de como ela podia dar aos outros estando no seu papel, mas era mais difícil para ela receber. Partilhou então comigo que obtinha pouco prazer da comida, e que se tinha que forçar a si própria a comer. Embora isto representasse um espectro de temas muito abrangente, relacionados com o campo (a comida está estreitamente relacionada com a família e com o tipo de relações à medida que vamos crescendo), quis manter o foco na relação terapêutica. Sugeri então uma experiência em que eu faria algo que a nutrisse, e ela praticaria aceitar receber. Demos as mãos. Lentamente acariciei-lhe as mãos com os meus dedos. Ela começou a acariciar de volta, mas eu detive-a - esta era a sua tendência de dar em vez de receber. A direcção que lhe apontei foi a de ver se ela podia receber algum sustento e prazer. À medida que o fazia, ela indicou-me não ser capaz de receber muito - os seus braços estavam rígidos. Também mordiscava os lábios, e estava consciente de fazer várias coisas que bloqueavam receber algum sustento de mim. Então, segurando as suas mãos, levantei lentamente os seus braços e movimentei-os. Pedi-lhe que abdicasse do controlo, que relaxasse e me deixasse fazer aquilo. Era muito difícil para ela, mantinha-se rígida e tratava de seguir os meus movimentos, em vez de me deixar conduzi-la. Fizémos este exercício durante algum tempo. Foi capaz de afrouxar um pouco, e à medida que o fazia, foi capaz de se deixar nutrir um pouco. Mas era difícil para ela. Dei-lhe como trabalho de casa encontrar uma outra pessoa com quem praticar. Em termos de trabalho futuro, haveria também várias formas de o continuar - explorando a sua resistência a abdicar do controlor, bem como a sua reluctância em deixar-se nutrir. Viríamos a abordar qualquer assunto de família que estivesse relacionado com este tema, incluindo o sítio onde se guardava a comida em sua casa. Em Gestalt, cada vez que encontramos uma ´resistência` não tratamos de a romper - em vez disso respeitamo-la. Procuramos o contexto - a situação original que ameaçou o ´ajuste criativo`. Tratamos de apreciar o ajuste criativo, entendê-lo, e tratá-lo de forma positiva. Deste modo, pude descobrir quão importante era para ela manter-se em controlo, o que estava em jogo ao abdicar desse controlo e poder confiar. É como se de repente se tornasse evidente que confiar, relaxar, não era uma boa ideia no seu contexto familiar/original. Sendo assim, qualquer nova experiência comigo teria de ser encarada com calma, apreciando o quão arriscada poderia ser. É melhor trabalhar muito devagar, de um modo que possa ser integrado - as experiências teriam então que levar isto em linha de conta. Também viríamos a experimentar comer algo durante a sessão - por exemplo pedaços de maçã. E realizar uma experência de tomada de consciência relacionado com comida, notando os detalhes do processo. Em vez de comportamentos do tipo ´falar acerca de´, procuramos sempre explorá-los na própria sessão, com tomada de consciência e apoio.

 Posted by  Steve Vinay Gunther