Case #68 - As verdades muito dolorosas


Mandy e Brian recorreram a Counselling para casais. Encontravam-se em crise. Após um casamento de 15 anos, e com dois filhos, Brian tinha um caso amoroso (o quarto no casamento) e Mandy, com 40 anos, estava desesperada por salvar o matrimónio. Estava determinada a não deixar que se separassem. Brian veio à sessão muito reluctantemente. Trabalhei inicialmente com Mandy, uma vez que Brian estava cauteloso e indisponível para se abrir. Explorei a história e o seu contexto pessoal. Perguntei-lhe em seguida pelo casamento. Contou-me que não tinham relações sexuais há 6 anos, e que tinha aprendido a adaptar-se. Estava à espera que ele tomasse a iniciativa, coisa que ele nunca fez. Falou com amigos, que lhe disseram que ela não poderia de facto alimentar demasiadas expectativas, e para seguir em frente e se dedicar a outras coisas na vida, os filhos, etc. Pedi-lhe que me desse uma percentagem para a qualidade do casamento em diversas áreas - intimidade, sexo, filhos, finanças, apoio. Variavam de 5% a 50% no máximo, com a intimidade no extremo mais baixo. Ela disse-me que precisaria que a média subisse para 30% de modo a se sentir satisfeita, e estava disposta a fazer o que fosse necessário. Pedi então ao Brian as suas percentagens. Eram de uma ordem semelhante, algumas um pouco inferiores ou superiores. Disse-me que teriam de subir até uns 75% para que se sentisse satisfeito. Estes problemas, no entanto, já duravam há 10 anos. Eles não falavam muito de assuntos interpessoais, e ambos evitavam temas difíceis. Mandy tinha conseguido lidar com a situação através da meditação. Brian entorpeceu-se a si mesmo e dedicou-se ao trabalho. Agora encontravam-se em crise. Ele não estava disposto a desistir do seu caso amoroso, ela não estava disposta a que as coisas continuassem na mesma. Encontravam-se num impasse, e tinham poucas competências para poderem falar sobre o assunto. Averiguei junto de Brian, e para ele estava terminado. Não tinha interesse algum em dedicar-se ao casamento ou em salvá-lo, ainda que pudesse ser salvo. Ele tinha seguido em frente, e queria sair da relação. Para Mandy isto era intolerável. Estava determinda em encontrar uma solução. O amor dela seria capaz de derreter a armadura dele. Contudo, se ele não alterasse o seu caso amoroso, ela inisistiria até às últimas consequências, recusando-lhe a liberdade de se divorciar. Eu chamei a atenção de que tal parecia mais uma batalha do que um esforço para derreter a sua armadura através do amor. Foi difícil para ela ver isso. Estava tão ansiosa, e tão determinada, que não podia encarar a verdade a respeito da posição em que Brian se encontrava. Perguntei-lhe se para ele estava tudo realmente acabado, se não haveria algum tipo de circunstâncias em que pudesse mudar a sua decisão. Respondeu que assim era, essa era a verdade. Pediu-lhe então que lhe oferecesse a ela esta sua afirmação ´verdadeira`. Para Mandy foi quase impossível ouvir. Ela queria argumentar, convencê-lo, negar, ameaçar. Ofereci-lhe muito apoio, reconhecendo os seus sentimentos. Quando ela se permitiu receber a afirmação de Brian, disse que preferia morrer, era demasiado difícil. Uma vez mais, ofereci-lhe o meu reconhecimento do quão mal ela se sentia, do quão assustada estava. Perguntei-lhe se gostaria de ouvir acerca da minha experiência de divórcio, e então partilhei com ela como tinha lidado com a situação. Ajudou-a um pouco, mas ainda se encontrava extremamente angustiada. Brian saiu do seu torpor e tornou-se mais brando, dizendo-lhe que gostava dela, que se sentia triste pela sua dor, mas que o seu gostar já não era de alguém íntimo, mas simplesmente como um amigo. Novamente, esta afirmação foi extremamente difícil de ouvir para ela, pelo que lhe ofereci um apoio emocional forte, de modo a que se pudesse manter presente. Ela queria voltar a fingir, a evitar, mas era demasiado tarde. Eu apoio sempre as pessoas no sentido de resolverem os seus assuntos passando pela experiência. Mas o meu compromisso primário é ajudar as pessoas a expressar as suas verdades, ouvirem-se umas às outras e obterem o apoio que necessitam para estarem presentes no processo. Isto é extremamente difícl quando se trata de algo tão devastador como o fim de uma relação. Neste caso, ninguém iria ganhar nada com Mandy a continuar a ´tentar` diante da falta de vontade de Brian. Este seu ´tentar`era de facto uma espécie de tentativa de controlar a situação, e isto tornou-se evidente quando ela se deparou com as suas próprias vozes. Ela indicou que queria que o casamento ficasse intacto, independentemente do que ele queria. Então eu pedi-lhe que lhe fizesse esta afirmação verdadeira - não me importa o que tu queres, só quero o que é importante para mim. Ele valorizou poder ouvir com este grau de clareza, e foi difícil para ela dizê-lo, mas foi representativo do que realmente se passava. Tornou a transacção mais clara, e tornou-se evidente para ela que neste seu esforço não estava a tentar derreter a armadura dele com amor, mas na realidade a reinvindicar as suas próprias necessidades sem consideração pelas dele. A isto eu chamo as ´não-virtudes` - a posse, o podermos apropriar-nos de lados mais obscuros de nós próprios. Identificamo-nos como amorosos, ou como vítimas, mas é duro reconhecermo-nos como alguém que de facto não se importa com a outra pessoa. É preciso muita coragem e muito apoio para ser capaz de o fazer, mas esta capacidade de ser verdadeiro é sempre refrescante, e ajuda a que possa acontecer algo diferente. Esta sessão tratou-se de lidar com verdades muito difíceis, mas sem esta afirmação da verdade, acaba por haver simplesmente mais amargura, raiva e defensividade. A ´história`que cada um conta da relacção vai ficando cada vez mais entrincheirada. Mas dizer a verdade não se faz como forma de ferir o outro. Trata-se da verdade pessoal de cada um de nós. O outro necessita de apoio para ser capaz de ouvir. Em Gestalt focamo-nos neste ´contar-a-verdade´ relacional, e entendemos que existe um poder transformativo em fazê-lo. Abordamos as dinânimas relacionais desta forma com a intenção de melhorar a qualidade do contacto, não para obter um determinado desfecho, nem a aprovação ou rejeição de qualquer um dos parceiros.

 Posted by  Steve Vinay Gunther