Case #64 - Escolhas sensatas ou escolhas disparatadas


Zac tinha problemas na relação. A sua namorada Marta era ´difícil de lidar´. Era criativa, tinha uma personalidade interessante, e partilhava muitos dos seus valores sobre política e sociedade. Era muito aceitadora em relação a ele, coisa que não havia expeirenciado antes numa relação. Passava momentos divertidos com ela, mas havia coisas em que não conseguia chegar a um acordo. Ela fumava erva, ele não. Ela interessava-se por pornografia hardcore, ele não. Ela queria ter múltiplos parceiros sexuais, ele não. Ele gostava do seu lado selvagem, mas também o deixava pesaroso. Podia ver que ela era instável, mas sentia que a podia ajudar. Não queria ter mais uma relação fracassada, pelo que a mantinha há já 2 anos. Mas ela era frequentemente reactiva, às vezes berrava com ele, e era bastante instável. Parecia que era uma relação simplesmente demasiado difícil, e no entanto ele não conseguia deixá-la. Tinha a ideia que o seu amor podia mudá-la, que as coisas iriam melhorar. Coloquei-lhe a questão nestes termos: e se as coisas não melhorassem? E se ela não mudasse? Se ela não quisesse mudar? Que aconteceria se ela nunca concordasse com a monogamia? Eram questões difíceis para ele levar em conta. Perguntei-lhe directamente, pois ele estava mais em contacto com a fantasia que com a realidade. E estava a evitar lidar com ´o que existe´, e os seus sentimentos em relação a isso. Ele afastava-se de si mesmo ao sonhar com o futuro. A Gestalt é muito focada no presente, em particular na nossa experiência no presente. É frequente as pessoas precisarem de apoio para estarem verdadeiramente no presente, e o Zac tinha as suas formas particulares de evitar o presente. Seguindo este processo, tornou-se muito claro para ele que não queria continuar a viver assim, não queria este tipo de disputa fútil na relação, e que se ela não mudasse, então a relação não funcionaria para ele, e ele teria que abdicar. Tive o cuidado de não o influenciar. A perspectiva existencial é que o que quer que escolhas fazer com a tua vida é escolha tua, e apenas necessitas estar disposto a viver com as consequências, previsíveis e imprevisíveis. A minha tarefa neste ponto é confrontar alguém com as suas escolhas, e ajudá-la a pular a cerca e mergulhar na sua própria vida. O que é importante é que a pessoa saiba que é ela que toma a decisão, não outros, não as circunstâncias. Neste caso, se ele escolhesse permanecer, seria pela escolha esclarecida de ficar com ela tal como ela era, em vez de surgir com novos planos. Era difícil para ele abdicar dos seus planos, mas quando o fez, pôde ver que o que havia não era suficiente para ele. No entanto, eu podia ver que, por muito racional que isto soasse, não era assim tão simples. Convidei-o então a entabular uma conversa entre os dois lados - a parte que estava disposta a abdicar, e a parte que queria apegar-se à relação. Tornou-se bastante claro que a parte apegada era o seu self criança, muito emocional. A parte disposta a abdicar era o seu self racional, que se podia desapegar. Mas lá por estar a fazer uma escolha racional e ´sensata´, não quer dizer que a situação estivesse resolvida. A parte infantil, a parte dos sentimentos, precisava de ser incluída na decisão. Isto requereu bastante mais diálogo entre as duas partes - não apenas palavras, mas os sentimentos que acompanhavam cada um dos lados. Lentamente, deu-se algum tipo de encontro, algum tipo de acordo. Chegou-se a uma resolução, que incluía o self infantil. Mas não assumi que fosse o fim da história, embora fosse o fim da sessão. Seria algo a que teria de voltar em sessões posteriores. Fritz Perls chamou a estas partes o ´topdog´ (cão de cima) e ´underdog´ (cão de baixo), e por mais que achemos que estamos a ter um pensamento dirigido, claro e competente, o que é facto é que há uma outra parte de nós que sabota a direção do topdog. Neste caso, o racional e sensato não era suficiente. Daí termos que tomar atenção para não tomar excessivamente o partido do topdog.

 Posted by  Steve Vinay Gunther