Case #51 - Confrontando um fantasma


Leanne contou-me acerca de andar muito assustada. Tinha medo de baratas, sobressaltava-se facilmente e às vezes à noite custava-lhe dormir, com medo que lhe entrassem ladrões pela janela, ou fantasmas ou ´monstros´. Também tinha medo de monstros quando andava de barco. Pondo o resto de parte, isto soava como um estado muito infantil, pelo que lhe perguntei sobre o que lhe tinha acontecido em criança para a tornar temerosa. Relatou-me de imediato um incidente que se passara quando tinha 6 anos. Um rapaz, um dos seus melhores amigos, morrera afogado. Passaram-se horas até ser descoberto. Trouxeram-no para casa dela, e a família do rapaz insistiu que o pai dela, médico, o tentasse reanimar. Não foi bem sucedido. Nessa noite ocorreu uma tempestade, e ela foi deitar-se muito assustada. Teve então um pesadelo, em que tentava salvá-lo e não conseguia. Pensava muito nele à medida que foi crescendo, e ainda se sentia bastante triste com este tema. Ora, isto tornou claro quem era o ´fantasma´ de quem ela tinha medo. Sugeri-lhe uma experiência confrontadora mas necessária - usando o drama do momento, a intensidade do medo e a oportunidade presente para lidar com ele directamente, de uma vez por todas. Propus-lhe então que eu ficasse de pé ao lado dela, encarando a janela aberta, com o grupo por detrás a dar apoio. Ela convidaria então o fantasma do seu jovem amigo que tinha morrido a entrar na sala, diante dela. Ela fê-lo, mas a tremer como varas verde. Deixei que se encostasse a mim, segurei-a com firmeza, o grupo bem perto atrás de nós. Instruí-a a que falasse com o ´fantasma´, dizendo-lhe como se sentia, pelo que tinha passado e o quanto tinha sentido a sua falta. Conseguiu fazê-lo, apesar de ser difícil. Referiu que queria estar com ele, do outro lado. Perguntei a Leanne como ele respondia a isso, e ela disse-me que ele não o desejava. Isto foi importante para ela assimilar; mesmo assim ainda havia nela um anelo residual pela morte e por querer estar perto dele. Apoiei-a então a dialogar mais com ele, contado-lhe realmente como se sentia, e escutando verdadeiramente a resposta. Tive que a apoiar, inicialmente através do seu medo, e depois da sua mágoa. Indiquei-lhe que dirigisse a sua respiração para o seu estômago, e fosse descendo em direcção às pernas. Em Gestalt trabalhamos com enraizamento e com respiração, para ajudar a pessoa a permanecer presente com a sua experiência e a intensidade da emoção. O que acontece frequentemente é que não havia apoio na altura para o conseguir fazer, em particular quando se é novo. Assim, estas técnicas ajudam a pessoa a contactar com a experiência que havia sido avassaladora anteriormente, de uma forma que agora possa ser assimilida. Foi muito difícil para ela manter-se presente - tinha passado os últimos 30 anos a viver com medo, a respirar superficialmente... o que por sua vez reforçava o medo. Foi pois difícil para ela respirar tão profundamente, e precisou de muito apoio e instruções da minha parte. Após algum tempo ficou muito calma, pôde despedir-se do fantasma e regressou inteiramente a si própria. Sentiu-se presente no seu corpo mais do que alguma vez se lembrava, e todos os vestígios do medo haviam desaparecido.

 Posted by  Steve Vinay Gunther